Ter, 17 Ago, 09h15 - Por Robin Pomeroy
TEERÃ (Reuters) - O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que Sakineh Mohammadi Ashtiani, a mulher condenada à morte por apedrejamento pelo crime de adultério, não será enviada ao Brasil, apesar da oferta de asilo feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A sentença imposta a Sakineh causou comoção internacional e se tornou um surpreendente tema de discussão na atual campanha eleitoral brasileira.
Lula, que tem relações amistosas com Ahmadinejad, ofereceu asilo a Sakineh neste mês. A proposta já havia sido anteriormente rejeitada por um porta-voz da chancelaria iraniana, segundo a qual o presidente brasileiro "não havia recebido suficiente informação" sobre o caso.
Em entrevista à Press TV, canal estatal iraniano em língua inglesa, Ahmadinejad disse: "Acho que não há necessidade de criar problemas para o presidente Lula e levá-la ao Brasil."
"Estamos interessados em exportar nossa tecnologia para o Brasil, em vez de (exportar) uma questão dessas", acrescentou ele na entrevista, transmitida na segunda-feira à noite. Ahmadinejad falou em farsi e sua voz foi coberta pela tradução para o inglês.
"Há um juiz, afinal de contas, e os juízes são independentes. Mas conversei com o chefe do Judiciário, e o Judiciário não concorda com isso (o asilo da ré)."
Pela lei islâmica vigente no Irã, os crimes de homicídio, adultério, estupro, assalto, apostasia e narcotráfico estão sujeitos à pena de morte. (Ps.: minha colocação - SUJEITO À PENA DE MORTE e não ALGO OBRIGATÓRIO, mas analisados por JUIZES com capacidade de ver na Lei Islâmica o JUSTO.)
Em entrevista coletiva, Ramin Mehmanparast, porta-voz da chancelaria, disse que o Ocidente criou todo o furor em torno de Sakineh para prejudicar o Irã.
"Isso é mais um complô a fim de criar problemas nas estreitíssimas relações (do Irã) com Brasil e Turquia", afirmou.
Em maio, Brasil e Turquia convenceram o Irã a aceitar um acordo de intercâmbio de material nuclear, na esperança de que isso afastasse as preocupações ocidentais de que o país estaria tentando desenvolver armas nucleares -- o que o Irã nega. O acordo acabou não sendo levado adiante porque logo em seguida a ONU anunciou um novo pacote de sanções ao Irã.
Sakineh foi condenada em 2006 a 99 chibatadas por ter uma "relação ilícita" com dois homens, segundo a entidade Anistia Internacional. Posteriormente, foi condenada à morte por apedrejamento, acusada de "adultério enquanto estava casada", o que a Anistia diz que ela nega. Depois, surgiu também uma acusação de envolvimento no homicídio do seu marido.
A sentença por apedrejamento foi suspensa, à espera de uma revisão judicial do caso, mas ainda poderá ser aplicada.
Na semana passada, uma mulher identificada como Sakineh deu uma entrevista à TV iraniana, falando de sua relação com um homem que matou seu marido.
A Anistia Internacional diz que o Irã é o segundo país do mundo que mais recorre à pena de morte, atrás apenas da China. Em 2008, a República Islâmica realizou pelo menos 346 execuções.